terça-feira, março 20, 2012

Amo a noite!

Amo a noite no centro da cidade. Amo sua boemia. Sua marginalidade. Sua luxúria. Seu erotismo. Sua poesia. Sua falta de pudor - um sorriso escancarado. A bela imagem triste de sua pobreza. O sexo de suas prostitutas. A precocidade de seus pivetes.

Frustrados poetas bêbados e seus soluços. Mutantes fêmeas travestis. O álcool que brinda a felicidade efêmera. A autenticidade do escuro. Suas esquinas com feitiçarias. Os amores do beco. A falta de placas, segundos e limites da madrugada.

Amo os homens que viveram sem preconceito essas noites e as criaram lindas. Pais de sua autenticidade. Composições, letras e títulos que surgiram sob sua inspiração.

Transformação do pudico em safado. Trocar uma ideia.

Amo seus vigias magros, solitários e com sono. O silêncio do dia que dorme. As coisas crescendo: suas ruas, seus prédios, seus casarões antigos, suas árvores, suas calçadas e nós. Amo a individualidade que o sossego do desmovimento permite.
Amo seus fantasmas saudosos.

Sua lentidão. Sua paciência. Sua elegância. Seu charme de bela mulher dissimulada, sedutora. Naturalmente linda, sem modéstia. Gentil. Gosta de uma conversa.

Um tango. Pendão da liberdade. Morada dos vícios. Ameaças para esposas ciumentas. Uma mal educada que fala palavrões. Uma dama que senta de pernas abertas, mas só se deita com aquele que lhe interessa.

Amo a noite no centro da cidade. Amo seu romantismo. O poder que nos dá. Sua intelectualidade: a noite no centro usa óculos. As histórias de seus personagens. Adivinhar o que fazem nas isoladas luzes acesas das janelas dos edifícios.

Suas lojas que dormem. É excitante sua calma. Seus gatos que passeiam tácitos, seguros, sem direção, os quais tanto invejam.

Não se conhece as pessoas pela noite, mas o que seriam se os holofotes do dia não as intimidassem.

Amanhece. Hora de dormir.

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